por Maria Clara
Após trinta e quatro anos do lançamento do livro Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista, da autora filósofa e bióloga feminista Donna Haraway, em 2018, o estilista Alessandro Michele se inspirou na crítica aos limites das identidades de gênero e que reflete sobre a influência da ciência e da tecnologia no Ocidente, que há presente no livro, para criar seu desfile de moda na passarela da semana de moda de Milão.
A Gucci, a grife italiana em que o estilista citado acima produziu sua coleção, acredita que o elemento ciborgue trabalhado por Haraway em seu livro é um “símbolo de uma possibilidade emancipatória por meio da qual podemos decidir nos tornar quem somos”. Dessa forma, através das roupas e acessórios, Michele percorreu por todos os limites do gênero binário e ele ainda comenta “Nós existíamos para nos reproduzir, mas já passamos dessa fase. Estamos vivendo em uma era pós-humana, com certeza; está em andamento”.
Segundo a autora Irina Rajewsky, o processo de transposição de mídias é “o processo “genético” de transformar um texto composto em uma mídia em outra mídia, de acordo com as possibilidades materiais e as convenções vigentes dessa nova mídia. O texto “original” [um conto, um filme, uma pintura, etc.] é a “fonte” do novo texto [texto alvo] na outra mídia.” (2012, p. 24). Ou seja, a partir do momento em que o estilista Alessandro Michele decidiu adaptar o livro da autora Haraway para a passarela, ele trabalhou com a questão da intermidialidade, uma vez que ele adaptou a ideia geral do livro – ou até mesmo pequenos detalhes – para uma forma midiática que é totalmente visual e que, consequentemente, gera no espectador um efeito mais rápido daquilo do que quer causar com a história original.
Abaixo, há alguns trechos do livro junto com anexos de algumas fotos do desfile, para que, dessa forma, possa ficar mais transparente a ideia de intermidialidade envolvida na criação de Alessandro Michele: "Um ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e, também, uma criatura de ficção. Realidade social significa relações sociais vividas, significa nossa construção política mais importante, significa uma ficção capaz de mudar o mundo."
"O ciborgue é uma criatura de um mundo pós-gênero."


"O ciborgue aparece como mito precisamente onde a fronteira entre o humano e o animal é transgredida"
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