por Marianna Alvarez
O mito de “alma gêmea” é atemporal, sendo retomado por diferentes culturas desde Antiguidade. Ele busca em sua forma explicar nossa constante procura pelo outro que possa nos complementar e abre inúmeras possibilidades de explicações ou de interpretações. E, relacionado à temática amorosa, ele está presente em diferentes artes e mídias: na literatura, na pintura, na música e no cinema. Ao consumir ou contemplar tais artes, somos inseridos no pensamento da existência de um par perfeito para nós, alguém por qual geramos um sentimento de afinidade ou uma conexão já predestinada.
Quanto à origem desse mito, é possível encontrar indícios da crença tanto no âmbito espiritual, quanto religioso. Mas, uma das histórias de origem mais interessantes é a lenda chinesa do Akai Ito.
Akai Ito significa “fio vermelho” ou “fio vermelho do destino” que representa o amor verdadeiro e a união de duas pessoas que foram destinadas umas para as outras. Acredita-se que aqueles que são ligados pelos deuses por esse cordão, possuem uma conexão invisível, uma união inquebrável, e estão destinados a ficarem juntos independente das circunstâncias. A lenda possui diversas versões e interpretações em diferentes culturas orientais.
Para os que querem descobrir mais sobre esse mito oriental, aí vai uma dica: o filme de anime japonês Kimi No Na Wa (Tradução: Your Name), lançado em 2017, que narra a história de uma garota chamada Misha que vive em um vilarejo do Japão e de um garoto chamado Taki que mora em Tóquio. De forma delicada e sutil, o filme trata da lenda de Akai Ito. Os dois protagonistas estão conectados entre si pelo “fio vermelho”, sendo a alma gêmea um do outro, vivendo a procura de algo desconhecido, até finalmente se encontrarem, enfrentando desafios de tempo e espaço para cumprir o destino de estarem juntos.
Filme Your Name (2017)

Já os gregos antigos, possuem outra lenda, não menos interessante. O filósofo e matemático da Grécia Antiga, Platão, em seu livro O Banquete, narra a história de Aristófanes, imortalizando a teoria da “alma gêmea”.Nesta história em questão, é dito que no início dos tempos os homens eram seres completos, de duas cabeças, quatro pernas e quatro braços. Considerando-se seres bem resolvidos, os homens decidiram subir aos céus e lutar contra os deuses. Entretanto, os deuses venceram a batalha e os homens foram castigados por Zeus, que os cortou ao meio. Ao caírem de novo na Terra, os homens iniciaram suas buscas pelas suas outras metades, como se a sobrevivência dependesse dessa convivência das duas partes de uma só alma.
E dessa forma, é possível mapear, em linhas gerais, as origens das lendas ou do mito “almas gêmeas”. Como já dito, a literatura, as artes e as mídias, em vários momentos, inspiraram-se na ideia de alma gêmea para expressarem ou criarem uma história e perpetuar este mito até a contemporaneidade.
É possível achar uma representação em cada mídia diferente. No âmbito cinematográfico, por exemplo, encontram-se diversos títulos com uma certa base de narração: dois personagens predestinados a se encontrarem e ficarem juntos. As histórias são repletas de cenas clichês, melodramáticas, com atos amorosos e diálogos profundos, demarcando ainda mais essa ideia de “conexão intensa”.
Na música, as opções de canções com a temática “alma gêmea” também não são limitadas. Algumas expressões são geralmente usadas com frequência nas letras para demarcar esse conceito como “sempre vou te amar” ou “feito para você”. E, quanto à literatura, as opções para uma análise são inúmeras. A maioria dos romances com histórias de amor baseia-se em personagens apaixonados, destinados a ficarem juntos, porém precisam enfrentar inúmeros obstáculos.
A ideia de almas gêmeas surgiu na Antiguidade, a partir de mitos e lendas, e vem sendo inserida em diversas artes que a sociedade atual consome e admira. Torna-se inevitável que esse conceito influencie nossa visão sobre amores reais, baseando-nos em histórias de amor fictícias, o que traz a questão: até que ponto realmente acreditamos em almas gêmeas ou estamos sendo influenciados a acreditar?
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